Não poderia dizer que, lamentavelmente, não havia livros e nem recursos na região onde nasci, pois a falta destes acabou sendo compensada pelos recursos naturais de que nós, crianças, meus irmãos e eu, desfrutávamos, já que podíamos correr livres pelo quintal e pastos, nadar no riacho, subir em árvores e todas aquelas coisas que as crianças criadas no sítio fazem.
E o resultado disso era uma "inventação" de histórias sem fim. Ainda não sabíamos ler, literalmente, mas contávamos o gado, as frutas e fazíamos uma linda leitura do nosso entorno. Ouvíamos canções e histórias...
Eu sempre gostei de ouvir histórias, dar asas à imaginação e assim inventar brincadeiras. E acho que esse foi o começo da minha fase de escrita, pois era necessário começar o registro disso tudo. Contudo, isso só foi possível mesmo um pouco mais tarde quando cheguei à escola rural. Onde fui alfabetizada e despertei ainda mais para a leitura.
Sinderlândia.
Leio assim como respiro
Sou um privilegiado !!
Lendo o depoimento e dos outros colegas Professores sobre suas relações leitura/família percebo o quão sou privilegiado.
Nasci numa família tradicional protestante, sou o quarto de cinco filhos e o único filho homem. Na minha casa sempre se respirou leitura e música.
Não tínhamos televisão, por doutrina religiosa, no entanto havia revistas, livros, livretos, jornais, e bilhetes por toda casa, do banheiro ao quintal (sem exageros). Eram Series Vagalume, Julia, Bianca, Sabrina, Veja, Jornal da Tarde, Noticias Populares, Partituras musicais, Bíblias ilustradas, Faroestes de bolso, Tex, Zagor, Tio Patinhas, Disney Especial, recadinhos para ir ao mercado ou à padaria e recados mil.
Minha mãe tinha (e tem) um cesto grande de vime, desses usados em piquenique, com dezenas de livros de fábulas que foi herança de minha avó. Este cesto permanecia debaixo de um armário da cozinha e após o jantar, no horário nobre da TV, minha mãe e irmãs mais velhas se alternavam nas leituras de histórias repletas de aventuras permeadas por heróis reais. As sugestões de leitura eram bem vindas e a seleção era eclética.
Nessas rodas de leitura ouvi ainda muito pequeno, clássicos como “O cortiço”, “Memórias póstumas de Brás Cubas”, “E o Vento Levou”, “Anarquistas Graças a Deus”, entre outros inúmeros títulos que foram adaptados ao cinema muitos anos depois.
O gostinho de “quero mais” que ficava na hora de ir dormir, e a ansiedade de saber o resto da história antes da próxima reunião me fez aprender a ler antes dos 6 anos e ter esse hábito tão enraizado em mim como beber água ou escovar os dentes.
Vó, Mãe, Manas... muito obrigado pelo incentivo.
Marcos Almeida de Campos
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